Suba no meu avião e veja todo o azul do céu. Ou apenas sinta cada raio de sol na sua face. Olhe pela janela do meu avião e veja todo o verde lá embaixo. Veja como parece caber na palma de sua mão, visto daqui.
Você poderia tirar uma foto nossa, deste momento? Porque eu posso no momento seguinte não me lembrar de nada disto. Ou você pode dar o passo inicial para todos os momentos terem sido deixados para trás.
Claro que eu não acredito em sua santidade. Não há uma santidade em você, nem salvação, nem qualquer coisa que se tornará épica. Há apenas o vestígio do que um dia foi e de que jamais voltará a ser.
Suba no meu avião. Deixe toda a hipocrisia de lado. A nossa e do mundo todo. Porque já deveríamos ter deixado isto de lado há tempos. Veja o horizonte daqui: por mais vertical que ele pareça, por mais vertiginosa que possa parecer a queda.
Você poderia guardar um momento de nosso silêncio? Ele diz mais do que quaisquer palavras jamais poderão dizer. A distância. O espaço entre tudo o que não é dito. O espaço entre tudo o que é dito e não é compreendido. Apenas guarde o silêncio, no canto mais escondido do seu coração. E quando precisar, o procure ali. Haverá uma sombra, neste silêncio, do que já fomos um dia.
Claro que não deveríamos ter deixado. Claro que egoísmo é uma das coisas que levam as pessoas a ficarem sós. Entretanto, há sempre a volta. Há sempre a vontade de querer reconquistar. De querer fazer algo novo e sem erros.
Suba no meu avião. Deixe que as coisas voltem a ser reais. Deixe que eu escute sua voz do outro lado, deixe que eu veja novamente seu rosto. Não por uma foto, não por um telefonema. Deixe-me olhar mais uma vez nos seus olhos.
Mesmo que tudo isto já não signifique nada, no meio do caos em que nossos sentimentos foram parar.
Suba no meu avião. Será que você poderia tirar apenas uma última foto nossa?